🦷 O Segredo dos Tecidos Moles: Como a Nova Filosofia “Tissue Care” Está Mudando a Implantodontia...
O planejamento digital que acabou com 10 anos de frustração clínica
A Odontologia Digital Como Pilar da Implantodontia e Periodontia Moderna
A Odontologia vive uma das maiores transformações de sua história. A incorporação do planejamento virtual, da cirurgia guiada, das impressoras 3D, dos softwares avançados e dos protocolos digitais aplicados aos tecidos duros e moles tornou-se não apenas uma ferramenta, mas uma verdadeira filosofia clínica. Na Aula 10 da Trilha do Conhecimento, registrada no eBook de 2025, os especialistas Dr. Lucas Capeletti (implantodontia digital) e Dr. Lucas Queiroz (periodontia digital) apresentaram uma síntese extraordinária dessa nova era e é justamente essa síntese que este blog traduz em uma narrativa completa e integrada.
O Planejamento Digital Como Ponto de Partida
No centro de toda a abordagem digital está o planejamento. Inspirado na filosofia de Simon Sinek (“Comece pelo porquê”), o Dr. Capeletti reforça que planejar é o que garante tranquilidade, previsibilidade e longevidade. São três pilares inegociáveis na implantodontia moderna. A máxima é simples: quanto mais tempo se dedica ao planejamento, menos tempo será gasto corrigindo erros durante ou após a execução.
Na aula os professores apresentaram casos reais que ilustraram perfeitamente esse ponto. Um dos exemplos mais marcantes é o de um paciente jovem que recebeu um implante de incisivo lateral totalmente vestibularizado, exigindo sua remoção e refazimento. Em outro caso, um implante imediato foi colocado excessivamente coronal, o que o especialista chamou de “morte programada”.
Esses erros não ocorreram por falta de técnica, mas por falhas de planejamento e deixam evidente por que o ambiente virtual é hoje indispensável. O planejamento digital reduz variações, antecipa problemas, corrige angulações impossíveis de prever clinicamente e estabelece limites biológicos e mecânicos antes mesmo de a broca tocar o osso.
Cirurgia Guiada: Ferramenta, Não Atalho
Uma das maiores confusões entre os clínicos é acreditar que cirurgia guiada é sinônimo de flapless ou que é uma técnica “apenas para iniciantes”. O eBook deixa claro: cirurgia guiada não simplifica o processo, ela qualifica.
A guiada é uma ferramenta tecnológica construída a partir da fusão do DICOM da tomografia com o STL do escaneamento intraoral, possibilitando um design de guia altamente preciso, que será impresso em tecnologias como SLA ou DLP. Mas a precisão depende do planejamento e, delegar esse planejamento a terceiros sem formação cirúrgica não apenas contraria a filosofia da guiada, como abre espaço para erros com consequências graves.
Mais do que facilitar a execução, a guiada reduz o risco de variações tridimensionais que podem comprometer a longevidade do implante. E essa não é uma opinião: dados apresentados por Capeletti mostram que implantes mal posicionados têm um risco 48 vezes maior de desenvolver peri-implantite quando comparados a fatores como tabagismo ou histórico periodontal.
Em outras palavras, se o posicionamento é o principal determinante de sucesso ou fracasso, a ferramenta mais segura para garantir esse posicionamento é a cirurgia guiada.
A Biologia Como Limite: O Que Tecidos Duros e Moles Exigem
Não existe fluxo digital que compense parâmetros biológicos negligenciados. Números que todo implantodontista deveria saber:
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É necessário ter pelo menos 1,8 a 2,0 mm de espessura de tábua vestibular.
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Pacientes com apenas 1,2 mm podem evoluir, em três meses, para fenestrações de cerca de 3 mm.
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O tecido mole também tem exigências rígidas:
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Mínimo de 2 mm de espessura, ideal acima de 3 mm.
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2 mm de mucosa queratinizada ao redor do implante.
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A ausência desses requisitos se manifesta de maneira silenciosa, porém destrutiva: remodelação acelerada da crista, sensibilidade, piora dos indicadores inflamatórios e, em casos severos, perda de até metade da área óssea integrável.
Assim, o planejamento digital não serve apenas para escolher o local do implante: ele também revela se é necessário intervir nos tecidos antes da cirurgia. A tecnologia digital, portanto, se integra tanto à implantodontia quanto à periodontia.
O Flapless Bem Indicado — E a Regra Não Escrita da Guiada
O eBook deixa claro que a minoria dos casos está realmente indicada para cirurgia flapless. Para que essa técnica seja aplicada com segurança, todos os critérios precisam ser atendidos simultaneamente:
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Espessura de tecido mole acima de 3 mm
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Presença de queratinizada maior que 2 mm
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Tábua vestibular mínima após instalação
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Ausência de necessidade de osteoplastia
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Estética favorável
Por isso, a frase dos autores se tornou um mantra moderno da implantodontia:
“Nem toda cirurgia guiada será flapless, mas toda cirurgia flapless deveria ser guiada.”
A tecnologia elimina a chance de erro quando não existe margem para erro.
Manejo dos Tecidos Moles: O Que a Evidência Chama de Padrão Ouro
Os autores revisitam a literatura clássica para explicar de maneira clara:
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Para ganho de mucosa queratinizada → enxerto gengival livre
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Para ganho de espessura → enxerto conjuntivo
O timing é igualmente importante.
O enxerto gengival livre não deve ser realizado no dia da instalação do implante. Ele precisa ser feito 60 a 90 dias antes, pois os retalhos de cada procedimento são incompatíveis.
O conjuntivo, por outro lado, tem sua melhor indicação no mesmo dia da instalação do implante, possibilitando uma única etapa cirúrgica.
Esse tipo de integração entre perio e implante, apresentada pelos especialistas, mostra o quanto a odontologia contemporânea exige visão multidisciplinar.
Casos Avançados: A Prática Comprovando a Teoria
Os casos clínicos apresentados demonstram com clareza a capacidade das tecnologias digitais de transformar cirurgias complexas em procedimentos mais previsíveis.
Foi demonstrado, por exemplo:
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Recobrimento radicular associado a implante imediato, com uso simultâneo da guia para permitir uma execução flapless e, ao mesmo tempo, viabilizar um retalho avançado de Zucchelli.
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Correção de extremo livre com guia mucosuportada, usando pinos de fixação para garantir estabilidade.
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Implante imediato com carga realizada a partir de extração flapless guiada, permitindo controle do envelope ósseo.
Esses exemplos reforçam que a tecnologia não elimina a necessidade de habilidade, mas expande as possibilidades do cirurgião experiente.
Periodontia Digital: Uma Fronteira Brasileira
A parte conduzida pelo Dr. Lucas Queiroz é um marco na periodontia digital. Segundo o eBook, 50% de todas as falhas em procedimentos implantodonticos e periodontais têm origem no diagnóstico inadequado.
A integração entre tomografia, escaneamento e softwares 3D permite:
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Determinar com precisão a relação entre margem gengival, JCE e crista óssea
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Planejar periodontia de forma tridimensional
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Criar guias específicas para intervenções complexas
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Acompanhar longitudinalmente a cicatrização
Mais do que apenas adotar tecnologia, é a periodontia se reinventando — e o Brasil está na liderança dessa reinvenção.
CAF Guide e MCAF Guide: O Brasil Criando Tecnologia Mundial
O auge da inovação apresentada no eBook é o desenvolvimento do CAF Guide, o primeiro guia cirúrgico do mundo para recobrimento radicular, criado em 2023 e publicado internacionalmente.
Ele resolve falhas críticas do recobrimento tradicional, como:
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Erros no desenho do retalho
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Dificuldade em definir a área doadora
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Risco aumentado na região palatina
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Incisões imprecisas
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Falta de padronização
O guia determina automaticamente:
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Altura ideal do retalho
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Dimensão exata do enxerto
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Distâncias seguras da artéria palatina
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Limites precisos de incisão
Depois dele, foi criado o MCAF Guide, uma versão adaptada para recessões múltiplas. Publicado em 2025, ele demonstrou recobrimento completo em 3 meses e excelente cicatrização em 15 dias.
Ambos são marcos mundiais desenvolvidos por um grupo brasileiro, algo raro e extremamente significativo para a odontologia nacional.
Ferramentas Digitais: Softwares, IA e Impressão 3D
Os professores apresentaram os principais softwares usados tanto na implantodontia quanto na periodontia digital.
Para implantes:
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Softwares com inteligência artificial que sugerem posições ideais automaticamente.
Para periodontia:
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Exocad adaptado, devido à ausência de um software periodontal nativo.
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Manobras específicas para adaptar o fluxo protético às necessidades teciduais.
Além disso, a impressão 3D via SLA ou DLP se tornou padrão ouro para guias pela precisão e custo-benefício. Para casos altamente personalizados, softwares gratuitos como MeshMixer e Blender também são utilizados.
Biomateriais e Fluxo Digital
O biomaterial apresentado, The Graft Collagen, mostra como a integração entre biologia e tecnologia é fundamental. O material possui excelente moldabilidade, partículas pequenas e boa integração, sendo eficiente para:
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Preenchimento de gaps periimplantares
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Regeneração óssea guiada
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Preservação alveolar
Junto ao planejamento e execução guiada, ele compõe um fluxo digital-biológico coeso e eficiente.
Uma Nova Filosofia Clínica
Para os autores, a tecnologia digital não é um luxo: é um compromisso ético com a excelência.
Ela traz:
✅Reprodutibilidade
✅Previsibilidade
✅Menos improviso
✅Segurança anatômica
✅Diagnóstico superior
✅Padrão elevado de qualidade
Como disse o Dr. Capeletti:
"Qual é o preço da minha tranquilidade? Qual é o preço do meu compromisso com a excelência?"
E a resposta da odontologia moderna é clara: a tecnologia é a ferramenta que torna essa excelência possível — e mensurável.
REFERÊNCIAS
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Capeletti, L.; Queiroz, L. Trilha do Conhecimento – Aula 10: Tecnologia Digital no Planejamento e Execução dos Procedimentos Cirúrgicos. Purgo Masterclass, 2025.