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Como subi 10mm de altura óssea sem perfurar nada

Da anatomia microscópica da mucosa sinusal às técnicas avançadas com piezocirurgia e PRF, a Profª Laura Pagliuso sintetiza 40 anos de experiência e revela como transformar casos complexos em reabilitações previsíveis e duradouras.


O Problema

A região posterior da maxila sempre foi um ponto crítico na implantodontia. A pneumatização natural do seio, somada à reabsorção óssea após perdas dentárias, reduz de forma drástica a altura disponível para implantes. O desafio é ainda maior devido à baixa densidade óssea, à íntima relação com estruturas anatômicas nobres e ao risco de perfurações e inflamação sinusal.

Durante décadas, o levantamento de seio maxilar foi visto apenas como um “procedimento complementar”. Contudo, como alerta a Profª Laura Pagliuso, ele é apenas um dos elos de um conjunto maior, que envolve reconstrução horizontal, vertical, controle dos tecidos moles, prevenção de peri-implantite e reabilitação biomecânica harmoniosa. Nada funciona isoladamente.


Fundamentos Anatômicos Essenciais

1. Arquitetura do Seio Maxilar

O seio maxilar é o maior dos seios paranasais e apresenta grande variação anatômica individual. Suas paredes, sendo elas: anterior, posterior, medial, lateral e teto orbitário  compõem um ambiente delicado, de múltiplas relações anatômicas e fisiológicas.

2. A Membrana Sinusal e Sua Fisiologia Microscópica

A mucosa sinusal (membrana de Schneider) é composta por:

  • Células caliciformes → produção constante de muco

  • Células ciliadas → movimentam o muco em direção ao óstio

  • Cada célula ciliada possui cerca de 300 cílios, batendo de forma sincronizada.

Este transporte mucociliar é vital para manter o seio limpo e saudável. Qualquer cirurgia deve preservar essa fisiologia.

3. O Óstio: o “coração funcional” do seio

Antes de qualquer intervenção, é obrigatório avaliar:

  • permeabilidade do óstio

  • espessamento de mucosa

  • presença de muco ou sinusopatia

  • variações (ex.: óstios acessórios — presentes em 30% dos pacientes)

Se o óstio estiver obstruído, o risco de complicações aumenta substancialmente.

Conclusão da autora: Tenha sempre um otorrino parceiro. Ele é responsável pelo tratamento das patologias sinusais, e a integração interdisciplinar é parte da segurança.


Metodologia Detalhada da Abordagem Cirúrgica

1. Escolha da Técnica: parâmetros decisórios

Altura óssea remanescente

  • Baixa altura → favorece via lateral

  • Altura moderada + seio estreito → favorece transcrestal

Profundidade vestíbulo-palatina

  • Seios estreitos: candidatas ideais ao transcrestal

  • Seios amplos: maior risco de perfuração transcrestal

Experiência do cirurgião
A técnica “menos invasiva” é aquela mais segura nas mãos do profissional.

2. Planejamento Digital: medidas essenciais

A sequência lógica proposta pela professora:

Medida 1 — Distância plataforma–coroa

Ideal: 4–5 mm
Acima disso → pode indicar deficiência vertical.

Medida 2 — Ângulo vestibular

Ângulo saudável: 140–160°
Ângulo fechado → indica reabsorção horizontal.

Profundidade e volume do seio

  • Pré-molares: 10–12 mm

  • Molares: 14–15 mm

  • Margem distal ideal: +5–6 mm além do último implante


Resultados em Números e Protocolos Objetivos

1. Exemplo prático de cálculo de volume

Caso real apresentado:

  • Altura residual: 3 mm

  • Implantes desejados: 10 mm

  • Profundidade média: 12 mm

  • Distância mésio-distal calculada: 30 mm
    → Resultado: 3,6 cm³ de biomaterial (≈ 1 g PURGO)

2. Padrões anatômicos para osteotomia lateral

  • Limite inferior: 1–2 mm acima do assoalho

  • Distância anterior: ≈3 mm da parede anterior

  • Atenção redobrada ao feixe infraorbitário

3. Criticidade da parede medial

  • Responsável por 40% da vascularização do enxerto

  • Descolamento adequado é imperativo


Estratégias Avançadas: Do PRF à Piezocirurgia

1. PRF como padrão moderno de proteção

A professora relata usar PRF em quase 100% das cirurgias.

Vantagens:

  • proteção da membrana

  • estímulo cicatricial

  • estabilidade do enxerto

  • substitui membranas de colágeno em grande parte dos casos

2. Piezocirurgia: segurança ampliada

A piezocirurgia oferece:

  • corte limpo de osso duro

  • preservação de tecidos moles

  • campo cirúrgico mais limpo (efeito cavitacional)

  • menor risco de perfuração

O efeito cavitacional ainda descontamina a área ao romper paredes bacterianas.

3. Biomateriais: seleção crítica

A professora rejeita a máxima “dentro do seio tudo funciona”.
Sua experiência com PURGO demonstra previsibilidade, especialmente em reconstruções volumosas.


Casos Clínicos Marcantes

1. Lesão cística com destruição vestibular

Um cisto extenso erodiu a parede vestibular e invadiu o seio.
Procedimentos realizados:

  • extração do dente 26

  • remoção completa da lesão

  • reconstrução da parede vestibular

  • enxertia completa com PURGO

O pós-operatório mostrou regeneração óssea volumosa e estável.

2. Reabilitação completa com enxerto de tecido mole

Após levantamento de seio e enxertia óssea, a paciente recebeu:

  • instalação de implante

  • reabertura tardia para maturação óssea

  • enxerto de conjuntivo palatino para ganho estético e funcional

  • reabilitação protética final previsível

3. Técnica Transcrestal Piezo Sinus Lift

Caso com apenas 3 mm de altura inicial e seio estreito (7–8 mm).

O kit Mectron foi utilizado com três insertos:

  • PL1: aproximação sem romper a cortical

  • PL3: expansão da loja (efeito pistão)

  • PL2: rompimento seguro da cortical e exposição da membrana

Após preenchimento com biomaterial, o implante foi instalado com controle tátil refinado.

Aguardaram-se 6 meses antes da reabertura, com excelente resultado final.


Comparações Práticas: Qual técnica escolher?

Técnica Quando usar Pontos fortes Pontos de atenção
Janela lateral Altura mínima, necessidade de grande volume Visibilidade total, mais controle Curva de aprendizado
Transcrestal (osteótomos) Altura moderada, seio estreito Menos invasiva nos melhores casos Pode causar vertigem, menor previsibilidade
Transcrestal Piezo Altura baixa em seios estreitos Segurança, preservação, controle tátil Exige habilidade com piezo
Implantes curtos Alternativa quando não se quer levantar seio Menos cirúrgico Não recomendado pela autora na maxila posterior

Limitações e Considerações Importantes

Segundo a Profª Laura:

  • Variações anatômicas (septos, mucosa espessa) podem dificultar o procedimento.

  • Excesso de enxerto pode gerar autofonia — impacto na qualidade de vida.

  • Tempo de maturação óssea depende do volume e do tipo de material.

  • O sucesso depende profundamente da habilidade do cirurgião, do planejamento e do instrumental.


Conclusões dos Autores

A aula reforça princípios essenciais:

  1. Planejamento é o alicerce da previsibilidade.

  2. Conhecimento + habilidade + instrumental formam os três pilares do sucesso.

  3. A piezocirurgia amplia a segurança e o conforto operatório.

  4. O PRF transforma o processo cicatricial e a proteção da membrana.

  5. A reconstrução dos tecidos moles é parte integral da longevidade dos implantes.

  6. A técnica ideal é aquela que traz segurança ao cirurgião e conforto ao paciente.

O levantamento de seio, na visão da Profª Laura, não é uma técnica, é um raciocínio cirúrgico, uma filosofia de abordagem integrada da maxila posterior.


Referências

  1. Pagliuso, L. Levantamento de Seio Maxilar – Masterclass Implantec. Outubro 2025.