O levantamento de seio maxilar é, historicamente, uma das cirurgias mais temidas e complexas da implantodontia e da cirurgia bucomaxilofacial. A dificuldade técnica, o risco de complicações e o longo tempo de tratamento sempre representaram desafios tanto para o profissional quanto para o paciente.
Entretanto, a evolução tecnológica, o refinamento das técnicas cirúrgicas e, principalmente, uma compreensão mais profunda da biologia da regeneração óssea mudaram completamente esse cenário. Hoje, é possível tratar casos antes considerados limítrofes com mais segurança, menor invasividade e previsibilidade clínica.
Este artigo é baseado integralmente no conteúdo da Masterclass Trilha do Conhecimento Purgo – Levantamento de Seio Maxilar e Complicações, ministrada pelos professores Dr. Márcio André Costa e Dr. Guilherme Fritscher, cirurgiões bucomaxilofaciais com mais de duas décadas de experiência clínica acumulada.
Após a extração dos dentes posteriores da maxila, ocorre um processo fisiológico de reabsorção do rebordo alveolarassociado à pneumatização progressiva do seio maxilar. Esse fenômeno reduz tanto a altura quanto, frequentemente, a espessura óssea disponível para a instalação de implantes.
Durante muitos anos, as indicações clínicas foram baseadas em consensos clássicos, como o de 1996, que estabeleciam parâmetros rígidos de acordo com a altura óssea residual:
> 5 mm: implantes imediatos com enxerto simultâneo
4–5 mm: avaliação individualizada
< 4 mm: contraindicação para implantes imediatos
Essas recomendações, embora importantes historicamente, não consideravam os avanços atuais em instrumentação, biomateriais e controle biológico.
O eBook não se trata de um ensaio clínico randomizado, mas de uma síntese clínica avançada, construída a partir de:
Mais de 20 anos de experiência clínica combinada
Centenas de cirurgias de levantamento de seio maxilar
Comparação longitudinal entre técnicas antigas e atuais
Discussão crítica baseada na literatura científica contemporânea
Dr. Márcio André Costa – Cirurgião Bucomaxilofacial, ampla experiência em reconstruções ósseas e seio maxilar
Dr. Guilherme Fritscher – Professor da PUC-RS, Cirurgião Bucomaxilofacial, atuação integrada com otorrinolaringologia
A aula foi estruturada para responder a uma pergunta central:
Qual é a melhor abordagem para o levantamento de seio maxilar hoje?
Com o amadurecimento da prática, os autores passaram a concentrar sua atuação em duas técnicas principais, utilizadas de forma isolada ou combinada, conforme a anatomia e o defeito ósseo.
A técnica da janela lateral permanece indispensável em defeitos extensos. O grande diferencial atual é a substituição de instrumentos rotatórios convencionais pela piezocirurgia.
Baseada na piezoeletricidade
Vibração seletiva em tecidos mineralizados
Preservação de tecidos moles, como a membrana sinusal
Seletividade tecidual absoluta
Redução significativa do risco de perfuração
Menor sangramento intraoperatório
Menor aquecimento ósseo e necrose térmica
Alta precisão de corte
Efeito bactericida por cavitação
Estudos histológicos citados na masterclass demonstram melhor integridade óssea nos cortes realizados com piezo quando comparados a brocas rotatórias e serras.
A osseodensificação (OD) representa uma mudança conceitual profunda: ao invés de remover osso, a técnica compacta e densifica o tecido ósseo.
Utilizando brocas específicas em sentido anti-horário, ocorre:
Compactação lateral do osso trabecular
Aumento da densidade óssea
Formação de autoenxerto no ápice do preparo
Microelevação do assoalho do seio maxilar
Altura óssea mínima: ≥ 4 mm
Presença de osso medular
Qualidade óssea trabecular favorável
A osseodensificação não é uma técnica milagrosa. Quando esses critérios não são atendidos, a janela lateral continua sendo a melhor opção.
Um dos dados mais relevantes apresentados na masterclass é a redução expressiva do tempo total de tratamento.
| Técnica | Tempo de cicatrização | Tempo total até prótese |
|---|---|---|
| Janela lateral tradicional | 8–9 meses | 11–12 meses |
| Osseodensificação | ≈ 3 meses | ≈ 3 meses |
Ambos os lados apresentaram excelente resultado ósseo e protético, porém com diferenças marcantes em invasividade, custo biológico e tempo.
Além disso, implantes instalados com OD frequentemente atingiram torques elevados (40–45 N), inclusive em regiões críticas.
A redução do tempo cirúrgico e do número de intervenções impacta diretamente:
Função mastigatória mais rápida
Menor período edêntulo
Menor morbidade cirúrgica
Pós-operatório mais confortável
Maior aceitação do plano de tratamento
Do ponto de vista psicossocial, tratamentos mais rápidos e previsíveis aumentam a confiança do paciente e reduzem a ansiedade associada a cirurgias extensas.
Um dos pontos de maior maturidade clínica abordados pelos autores é a autocrítica sobre o excesso de biomaterialutilizado no passado.
Para que haja regeneração óssea previsível, são necessários:
Neovascularização intensa
Aporte de células osteogênicas
Microestrutura adequada do biomaterial
Estabilidade do coágulo
Quanto maior o volume de enxerto, maior o risco de comprometer a biologia do seio maxilar.
Os autores deixam claro:
Não há evidência científica de que o L-PRF aumente a neoformação óssea.
Ainda assim, seu uso é amplamente defendido como:
Veículo biológico para o enxerto
Proteção e reforço da membrana sinusal
Prevenção de microperfurações
Auxílio na cicatrização dos tecidos moles
O protocolo clínico inclui, frequentemente, dupla camada de membrana de L-PRF antes da inserção do enxerto.
Incidência aproximada: 25% dos casos
Impacto: menor volume de formação óssea
Conduta recomendada:
Perfurações pequenas: L-PRF ou membrana de colágeno
Perfurações extensas sem vedamento seguro: abortar a cirurgia
Incidência: 5–6% dos casos
Até 80% requerem reintervenção
Principais fatores de risco:
Tabagismo
Técnica inadequada
Excesso de biomaterial
Seio previamente doente
A masterclass reforça que a maioria das complicações é evitável com:
Tomografia com campo de visão ampliado (FOV)
Avaliação do óstio do seio maxilar
Anamnese rigorosa
Identificação de sinusites prévias
Interação com otorrinolaringologista
Nunca realizar enxerto em seio maxilar doente.
Segundo Dr. Márcio André Costa e Dr. Guilherme Fritscher:
A piezocirurgia elevou o padrão de segurança
A osseodensificação substituiu técnicas traumáticas
As técnicas são complementares, não concorrentes
Menos enxerto significa mais previsibilidade
O tempo de tratamento foi drasticamente reduzido
Bom – Saúde do paciente
Bem – Função
Bonito – Estética
Sempre nessa ordem.
Pereira, A. L. Trilha do Conhecimento Purgo – Aula tema: Preservação Alveolar e Implantes Imediatos na Área Estética.