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A arma secreta da ortodontia moderna: piezocirurgia acelera tratamentos em tempo recorde com total segurança
Piezocirurgia Acelera Ortodontia: Meta-Análise Mostra Redução de 1,8 Meses no Tempo Total de Tratamento
Por que isso importa agora?
Tratamentos ortodônticos longos — muitas vezes de 18 a 36 meses — representam um desafio para pacientes e profissionais. O tempo prolongado aumenta riscos como reabsorção radicular, perda de suporte periodontal e baixa adesão do paciente.
Nos últimos anos, técnicas cirúrgicas adjuvantes têm sido estudadas para acelerar a movimentação dentária. Entre elas, a piezocirurgia associada à corticotomia tem ganhado destaque pela promessa de resultados mais rápidos com segurança. Agora, uma meta-análise de 11 ensaios clínicos randomizados (RCTs) publicada em 2025 no Journal of Clinical Medicine confirma sua eficácia.
O que é Piezocirurgia com Corticotomia?
A corticotomia consiste em realizar pequenos cortes no osso alveolar para estimular um fenômeno conhecido como Resposta Acelerada Regional (Regional Acceleratory Phenomenon – RAP). Essa resposta aumenta o metabolismo ósseo e reduz a resistência mecânica, facilitando a movimentação dentária.
A piezocirurgia utiliza ultrassom de alta frequência para realizar esses cortes de forma precisa e seletiva, preservando tecidos moles e reduzindo riscos de trauma. Comparada à corticotomia convencional (com brocas ou serras), a técnica com piezocirurgia é considerada:
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Minimamente invasiva
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Mais segura para tecidos adjacentes
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Com melhor controle de sangramento
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Com potencial de recuperação mais rápida
Evidências Científicas da Meta-Análise
A revisão sistemática incluiu 11 RCTs publicados entre 2007 e 2023, avaliando pacientes submetidos a tratamento ortodôntico convencional com ou sem corticotomia assistida por piezocirurgia.
Resultados principais:
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Redução média no tempo total de tratamento: 1,8 meses (IC 95%: 0,38–3,22; p = 0,013).
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Efeito mais marcante na retração de caninos: estudos mostraram aceleração especialmente durante o fechamento de espaços pós-extrações.
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Segurança clínica preservada: não houve aumento significativo de dor, reabsorção radicular, perda de inserção periodontal ou infecções.
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Taxa de sucesso ortodôntico equivalente: alinhamento e intercuspidação finais não foram comprometidos.
Em termos práticos, essa diferença pode parecer modesta (1,8 meses), mas em tratamentos de longa duração representa um benefício real, especialmente em adultos que buscam eficiência.
Como Funciona Biologicamente?
A chave está no RAP – Regional Acceleratory Phenomenon:
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A corticotomia gera microlesões no osso alveolar.
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Isso estimula osteoclastos e osteoblastos, aumentando a remodelação óssea.
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O metabolismo ósseo acelerado reduz a densidade e rigidez do osso temporariamente.
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Os dentes encontram menos resistência e se movimentam mais rápido.
Esse efeito é transitório, durando algumas semanas a meses, o que explica por que a aceleração é mais evidente nas fases iniciais do tratamento (como retração de caninos).
Comparação com Outras Técnicas de Aceleração Ortodôntica
Além da piezocirurgia com corticotomia, outras estratégias vêm sendo investigadas:
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Micro-osteoperfurações (MOPs): menos invasivas, mas com efeito mais limitado.
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Laserterapia de baixa intensidade (LLLT): estimula metabolismo celular, mas evidência ainda controversa.
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Vibrações mecânicas (dispositivos aceleradores): resultados inconsistentes.
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Medicamentos (prostaglandinas, fatores de crescimento): ainda em fases experimentais.
Comparativamente, a piezocirurgia oferece um equilíbrio favorável entre eficácia, segurança e aplicabilidade clínica.
Impacto na Prática Clínica
Para Pacientes
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Menor tempo de uso de aparelhos fixos → mais conforto e adesão.
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Benefício estético mais rápido → especialmente valorizado por adultos.
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Menor risco de complicações associadas ao tempo prolongado.
Para Ortodontistas
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Ferramenta para casos complexos ou pacientes com pressa.
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Integração com alinhadores invisíveis e tecnologias digitais pode potencializar resultados.
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Pode ser indicada em protocolos personalizados, respeitando a biologia individual.
Limitações Reconhecidas
Apesar do entusiasmo, os autores destacam algumas limitações:
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Amostras pequenas em vários estudos (15–44 pacientes).
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Heterogeneidade nos protocolos (tempo, tipo de movimento avaliado).
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Seguimento de curto prazo, sem dados sólidos sobre estabilidade a longo prazo.
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Necessidade de treinamento especializado e custo adicional do procedimento.
Ou seja, embora promissora, a técnica não deve ser vista como “atalho universal”, mas sim como adjuvante em casos bem selecionados.
Futuro e Perspectivas
As próximas fronteiras incluem:
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Estudos multicêntricos com grandes amostras para confirmar benefícios.
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Padronização de protocolos cirúrgicos para reduzir variabilidade.
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Associação com biomateriais (ex.: enxertos ósseos ou fatores de crescimento) para ampliar o efeito.
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Integração com ortodontia digital → uso combinado com alinhadores e planejamento 3D.
Se confirmada sua eficácia em maior escala, a piezocirurgia poderá se tornar um padrão de cuidado adjuvante em ortodontia.
Conclusões Práticas
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A piezocirurgia com corticotomia reduz o tempo total de tratamento ortodôntico em cerca de 1,8 meses, com segurança clínica confirmada.
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O efeito é mais evidente em movimentos de retração de caninos e fechamento de espaços.
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Pode ser considerada uma ferramenta estratégica para pacientes adultos e casos de maior complexidade.
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Ainda requer mais evidências de longo prazo e seleção criteriosa de casos.
Referência Científica
Al-Rimawi AS, Abdulrahman H, Abu Alhaija E, Alzoubi EE, Al-Ozairi E, Al-Mousa F. Reduction in Overall Time with Corticotomy Using Piezosurgery in Orthodontics: A Meta-Analysis of Randomized Clinical Trials. Journal of Clinical Medicine. 2025; 14(6):1947. https://doi.org/10.3390/jcm14061947