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O caso que me ensinou mais que qualquer congresso

Escrito por Implantec Brasil | Nov 13, 2025 2:22:49 PM

🦷 O Segredo dos Tecidos Moles: Como a Nova Filosofia “Tissue Care” Está Mudando a Implantodontia

Por que dominar o manejo de tecidos moles é o novo divisor de águas na implantodontia moderna

Durante décadas, o foco da implantodontia esteve nos ossos. Mas, como mostra o professor Luís Fernando Nunes em sua aula na Trilha do Conhecimento Purgo, o verdadeiro sucesso dos implantes está, hoje, no que envolve os tecidos moles periimplantares. Essa aula magistral traduz em ciência e prática a importância da biologia tecidual, da queratinização gengival e das técnicas regenerativas para garantir estética, função e longevidade.

🧩 O Problema: A Odontologia Que Parava no Osso

Durante muito tempo, a regra era “deixar cicatrizar espontaneamente”. O implante era visto apenas como uma vedação do alvéolo.
Mas o professor Nunes lembra: “A era da cicatrização passiva acabou.”

Hoje, a implantodontia busca preservar ativamente o reborde alveolar, manipulando tecidos e usando biomateriais que respeitam a fisiologia. A meta não é apenas função, mas também harmonia gengival e estética natural.

🧠 O Estudo Científico que Mudou Tudo: Löe, 1965

O ponto de virada vem do clássico estudo de Löe (1965), o primeiro a demonstrar cientificamente a relação causal entre placa bacteriana e gengivite.

Metodologia:

  • 12 estudantes de odontologia

  • 21 dias sem escovação, seguidos de 7 dias de retomada da higiene

  • Avaliação diária de índices de placa e inflamação

Conclusão:
A inflamação não é inevitável, é controlável. O acúmulo de placa causa gengivite, mas sua remoção a reverte completamente.

Esse princípio ainda fundamenta toda a odontologia preventiva moderna e, no contexto dos implantes, reforça o papel essencial do tecido queratinizado como barreira biológica ativa.

🧬 Da História aos Biotipos: Tecidos que Contam o Tempo

Desde 1963, os enxertos gengivais vêm sendo aprimorados. Um caso relatado por Nunes, com 20 anos de acompanhamento, mostra um enxerto gengival livre (EGL) que manteve a margem estável por duas décadas, a prova viva da integração entre biologia e técnica.

Os biotipos periodontais influenciam fortemente o resultado:

  • Espesso → inflama lentamente, cicatriza com previsibilidade e é mais estável.

  • Fino → reage rapidamente e exige intervenção mais cuidadosa.

Um biótipo adequado é, portanto, parte do planejamento, não apenas uma consequência.

🧱 Tissue Care: A Revolução Biológica

A filosofia Tissue Care, nascida nos anos 2000 com os implantes Straumann, trouxe o conceito de mínima perturbação biológica.
Quanto menos o tecido for agredido, melhor ele responderá.

Componentes-chave dessa filosofia:

Elemento Conceito Benefício Biológico
Conexão cônica Menor gap entre implante e pilar Estabilidade e selamento superior
Implante infraósseo (plataforma switching) Pilar menor que o diâmetro do implante Espaço para regeneração tecidual
Ambiente protegido Homeostasia entre os tecidos Maior longevidade e estética previsível

🔍 Diagnóstico e Prevenção: Medindo o Invisível

O eBook enfatiza a importância de medir o que não se vê: a faixa de gengiva queratinizada.

  • Ideal: >2 mm para implantes

  • Cálculo: Gengiva inserida = Faixa total queratinizada – profundidade de sondagem

Valores abaixo de 1 mm indicam risco funcional e estético, exigindo intervenção cirúrgica ou regenerativa.

“Para cada dólar em prevenção, você economiza cem dólares de tratamento.” — Luís Fernando Nunes

⚙️ As Técnicas Cirúrgicas que Redefiniram os Resultados

🔸 Enxerto Gengival Livre (EGL)

  • Aumenta a faixa de tecido queratinizado

  • Protege implantes em risco

  • Corrige deficiências teciduais

  • Mantém estabilidade em longo prazo

🔸 Enxerto Conjuntivo Subepitelial

  • Resultados estéticos superiores

  • Integração vascular aprimorada

  • Ideal para regiões anteriores

Essas técnicas, quando aplicadas com princípios biológicos claros, produzem resultados que resistem ao tempo.

💎 Biomateriais e Biotecnologia: A Nova Geração da Regeneração

O padrão-ouro continua sendo o enxerto autógeno, mas os novos substitutos, como o The Graft Collagen, combinam hidroxiapatita e colágeno com 90% de compatibilidade genética.
O diferencial? Remodelação verdadeira, e não permanência como corpo estranho.

Além disso, o uso de hemoderivados como o L-PRF (Choukroun, 2012) impulsiona a regeneração óssea e tecidual, promovendo osteocondução e aceleração da cicatrização com excelente custo-benefício.

💡 Bioestimulação com Laser: Ciência de Luz

fotobiomodulação (660 nm) mostrou-se eficaz para:

  • Reduzir inflamação e edema

  • Acelerar a cicatrização

  • Melhorar a qualidade dos tecidos moles

Aplicada em protocolos de pós-cirurgia, enxertos e manutenção periodontal, a técnica é hoje um dos recursos mais seguros e eficazes para otimizar o reparo biológico.

🧭 A Filosofia do Ensino: O Sutra do Conhecimento

O professor Nunes encerra com uma metáfora poderosa: o “fio invisível do saber”, que conecta todas as disciplinas odontológicas, sendo elas: biologia, técnica, biomateriais e ética.

“O mais importante é carregar dentro de si o fio que une as pérolas do conhecimento.”

A lição final é clara: o verdadeiro elo fraco da odontologia moderna não está nos materiais, mas na falta de atualização. Estudar, refletir e integrar ciência à prática é o caminho da excelência clínica e humana.

📘 Conclusão: Cuidar do Tecido é Cuidar do Tempo

Dominar o manejo dos tecidos moles periimplantares é mais do que uma habilidade técnica, é uma filosofia biológica.
Quando o profissional compreende o papel da queratinização, respeita o espaço biológico e aplica os princípios do Tissue Care, o resultado é previsível, duradouro e, acima de tudo, vivo.

A longevidade dos implantes não está no titânio, mas no tecido que o acolhe.

Referências

  1. Nunes, L. F. Trilha do Conhecimento Purgo – Manejo de Tecidos Moles Periimplantares. Masterclass, Julho 2025.