Durante décadas, o foco da implantodontia esteve nos ossos. Mas, como mostra o professor Luís Fernando Nunes em sua aula na Trilha do Conhecimento Purgo, o verdadeiro sucesso dos implantes está, hoje, no que envolve os tecidos moles periimplantares. Essa aula magistral traduz em ciência e prática a importância da biologia tecidual, da queratinização gengival e das técnicas regenerativas para garantir estética, função e longevidade.
Durante muito tempo, a regra era “deixar cicatrizar espontaneamente”. O implante era visto apenas como uma vedação do alvéolo.
Mas o professor Nunes lembra: “A era da cicatrização passiva acabou.”
Hoje, a implantodontia busca preservar ativamente o reborde alveolar, manipulando tecidos e usando biomateriais que respeitam a fisiologia. A meta não é apenas função, mas também harmonia gengival e estética natural.
O ponto de virada vem do clássico estudo de Löe (1965), o primeiro a demonstrar cientificamente a relação causal entre placa bacteriana e gengivite.
Metodologia:
12 estudantes de odontologia
21 dias sem escovação, seguidos de 7 dias de retomada da higiene
Avaliação diária de índices de placa e inflamação
Conclusão:
A inflamação não é inevitável, é controlável. O acúmulo de placa causa gengivite, mas sua remoção a reverte completamente.
Esse princípio ainda fundamenta toda a odontologia preventiva moderna e, no contexto dos implantes, reforça o papel essencial do tecido queratinizado como barreira biológica ativa.
Desde 1963, os enxertos gengivais vêm sendo aprimorados. Um caso relatado por Nunes, com 20 anos de acompanhamento, mostra um enxerto gengival livre (EGL) que manteve a margem estável por duas décadas, a prova viva da integração entre biologia e técnica.
Os biotipos periodontais influenciam fortemente o resultado:
Espesso → inflama lentamente, cicatriza com previsibilidade e é mais estável.
Fino → reage rapidamente e exige intervenção mais cuidadosa.
Um biótipo adequado é, portanto, parte do planejamento, não apenas uma consequência.
A filosofia Tissue Care, nascida nos anos 2000 com os implantes Straumann, trouxe o conceito de mínima perturbação biológica.
Quanto menos o tecido for agredido, melhor ele responderá.
Componentes-chave dessa filosofia:
| Elemento | Conceito | Benefício Biológico |
|---|---|---|
| Conexão cônica | Menor gap entre implante e pilar | Estabilidade e selamento superior |
| Implante infraósseo (plataforma switching) | Pilar menor que o diâmetro do implante | Espaço para regeneração tecidual |
| Ambiente protegido | Homeostasia entre os tecidos | Maior longevidade e estética previsível |
O eBook enfatiza a importância de medir o que não se vê: a faixa de gengiva queratinizada.
Ideal: >2 mm para implantes
Cálculo: Gengiva inserida = Faixa total queratinizada – profundidade de sondagem
Valores abaixo de 1 mm indicam risco funcional e estético, exigindo intervenção cirúrgica ou regenerativa.
“Para cada dólar em prevenção, você economiza cem dólares de tratamento.” — Luís Fernando Nunes
Aumenta a faixa de tecido queratinizado
Protege implantes em risco
Corrige deficiências teciduais
Mantém estabilidade em longo prazo
Resultados estéticos superiores
Integração vascular aprimorada
Ideal para regiões anteriores
Essas técnicas, quando aplicadas com princípios biológicos claros, produzem resultados que resistem ao tempo.
O padrão-ouro continua sendo o enxerto autógeno, mas os novos substitutos, como o The Graft Collagen, combinam hidroxiapatita e colágeno com 90% de compatibilidade genética.
O diferencial? Remodelação verdadeira, e não permanência como corpo estranho.
Além disso, o uso de hemoderivados como o L-PRF (Choukroun, 2012) impulsiona a regeneração óssea e tecidual, promovendo osteocondução e aceleração da cicatrização com excelente custo-benefício.
A fotobiomodulação (660 nm) mostrou-se eficaz para:
Reduzir inflamação e edema
Acelerar a cicatrização
Melhorar a qualidade dos tecidos moles
Aplicada em protocolos de pós-cirurgia, enxertos e manutenção periodontal, a técnica é hoje um dos recursos mais seguros e eficazes para otimizar o reparo biológico.
O professor Nunes encerra com uma metáfora poderosa: o “fio invisível do saber”, que conecta todas as disciplinas odontológicas, sendo elas: biologia, técnica, biomateriais e ética.
“O mais importante é carregar dentro de si o fio que une as pérolas do conhecimento.”
A lição final é clara: o verdadeiro elo fraco da odontologia moderna não está nos materiais, mas na falta de atualização. Estudar, refletir e integrar ciência à prática é o caminho da excelência clínica e humana.
Dominar o manejo dos tecidos moles periimplantares é mais do que uma habilidade técnica, é uma filosofia biológica.
Quando o profissional compreende o papel da queratinização, respeita o espaço biológico e aplica os princípios do Tissue Care, o resultado é previsível, duradouro e, acima de tudo, vivo.
A longevidade dos implantes não está no titânio, mas no tecido que o acolhe.
Nunes, L. F. Trilha do Conhecimento Purgo – Manejo de Tecidos Moles Periimplantares. Masterclass, Julho 2025.