Da anatomia microscópica da mucosa sinusal às técnicas avançadas com piezocirurgia e PRF, a Profª Laura Pagliuso sintetiza 40 anos de experiência e revela como transformar casos complexos em reabilitações previsíveis e duradouras.
A região posterior da maxila sempre foi um ponto crítico na implantodontia. A pneumatização natural do seio, somada à reabsorção óssea após perdas dentárias, reduz de forma drástica a altura disponível para implantes. O desafio é ainda maior devido à baixa densidade óssea, à íntima relação com estruturas anatômicas nobres e ao risco de perfurações e inflamação sinusal.
Durante décadas, o levantamento de seio maxilar foi visto apenas como um “procedimento complementar”. Contudo, como alerta a Profª Laura Pagliuso, ele é apenas um dos elos de um conjunto maior, que envolve reconstrução horizontal, vertical, controle dos tecidos moles, prevenção de peri-implantite e reabilitação biomecânica harmoniosa. Nada funciona isoladamente.
O seio maxilar é o maior dos seios paranasais e apresenta grande variação anatômica individual. Suas paredes, sendo elas: anterior, posterior, medial, lateral e teto orbitário compõem um ambiente delicado, de múltiplas relações anatômicas e fisiológicas.
A mucosa sinusal (membrana de Schneider) é composta por:
Células caliciformes → produção constante de muco
Células ciliadas → movimentam o muco em direção ao óstio
Cada célula ciliada possui cerca de 300 cílios, batendo de forma sincronizada.
Este transporte mucociliar é vital para manter o seio limpo e saudável. Qualquer cirurgia deve preservar essa fisiologia.
Antes de qualquer intervenção, é obrigatório avaliar:
permeabilidade do óstio
espessamento de mucosa
presença de muco ou sinusopatia
variações (ex.: óstios acessórios — presentes em 30% dos pacientes)
Se o óstio estiver obstruído, o risco de complicações aumenta substancialmente.
Conclusão da autora: Tenha sempre um otorrino parceiro. Ele é responsável pelo tratamento das patologias sinusais, e a integração interdisciplinar é parte da segurança.
Altura óssea remanescente
Baixa altura → favorece via lateral
Altura moderada + seio estreito → favorece transcrestal
Profundidade vestíbulo-palatina
Seios estreitos: candidatas ideais ao transcrestal
Seios amplos: maior risco de perfuração transcrestal
Experiência do cirurgião
A técnica “menos invasiva” é aquela mais segura nas mãos do profissional.
A sequência lógica proposta pela professora:
Ideal: 4–5 mm
Acima disso → pode indicar deficiência vertical.
Ângulo saudável: 140–160°
Ângulo fechado → indica reabsorção horizontal.
Pré-molares: 10–12 mm
Molares: 14–15 mm
Margem distal ideal: +5–6 mm além do último implante
Caso real apresentado:
Altura residual: 3 mm
Implantes desejados: 10 mm
Profundidade média: 12 mm
Distância mésio-distal calculada: 30 mm
→ Resultado: 3,6 cm³ de biomaterial (≈ 1 g PURGO)
Limite inferior: 1–2 mm acima do assoalho
Distância anterior: ≈3 mm da parede anterior
Atenção redobrada ao feixe infraorbitário
Responsável por 40% da vascularização do enxerto
Descolamento adequado é imperativo
A professora relata usar PRF em quase 100% das cirurgias.
Vantagens:
proteção da membrana
estímulo cicatricial
estabilidade do enxerto
substitui membranas de colágeno em grande parte dos casos
A piezocirurgia oferece:
corte limpo de osso duro
preservação de tecidos moles
campo cirúrgico mais limpo (efeito cavitacional)
menor risco de perfuração
O efeito cavitacional ainda descontamina a área ao romper paredes bacterianas.
A professora rejeita a máxima “dentro do seio tudo funciona”.
Sua experiência com PURGO demonstra previsibilidade, especialmente em reconstruções volumosas.
Um cisto extenso erodiu a parede vestibular e invadiu o seio.
Procedimentos realizados:
extração do dente 26
remoção completa da lesão
reconstrução da parede vestibular
enxertia completa com PURGO
O pós-operatório mostrou regeneração óssea volumosa e estável.
Após levantamento de seio e enxertia óssea, a paciente recebeu:
instalação de implante
reabertura tardia para maturação óssea
enxerto de conjuntivo palatino para ganho estético e funcional
reabilitação protética final previsível
Caso com apenas 3 mm de altura inicial e seio estreito (7–8 mm).
O kit Mectron foi utilizado com três insertos:
PL1: aproximação sem romper a cortical
PL3: expansão da loja (efeito pistão)
PL2: rompimento seguro da cortical e exposição da membrana
Após preenchimento com biomaterial, o implante foi instalado com controle tátil refinado.
Aguardaram-se 6 meses antes da reabertura, com excelente resultado final.
| Técnica | Quando usar | Pontos fortes | Pontos de atenção |
|---|---|---|---|
| Janela lateral | Altura mínima, necessidade de grande volume | Visibilidade total, mais controle | Curva de aprendizado |
| Transcrestal (osteótomos) | Altura moderada, seio estreito | Menos invasiva nos melhores casos | Pode causar vertigem, menor previsibilidade |
| Transcrestal Piezo | Altura baixa em seios estreitos | Segurança, preservação, controle tátil | Exige habilidade com piezo |
| Implantes curtos | Alternativa quando não se quer levantar seio | Menos cirúrgico | Não recomendado pela autora na maxila posterior |
Segundo a Profª Laura:
Variações anatômicas (septos, mucosa espessa) podem dificultar o procedimento.
Excesso de enxerto pode gerar autofonia — impacto na qualidade de vida.
Tempo de maturação óssea depende do volume e do tipo de material.
O sucesso depende profundamente da habilidade do cirurgião, do planejamento e do instrumental.
A aula reforça princípios essenciais:
Planejamento é o alicerce da previsibilidade.
Conhecimento + habilidade + instrumental formam os três pilares do sucesso.
A piezocirurgia amplia a segurança e o conforto operatório.
O PRF transforma o processo cicatricial e a proteção da membrana.
A reconstrução dos tecidos moles é parte integral da longevidade dos implantes.
A técnica ideal é aquela que traz segurança ao cirurgião e conforto ao paciente.
O levantamento de seio, na visão da Profª Laura, não é uma técnica, é um raciocínio cirúrgico, uma filosofia de abordagem integrada da maxila posterior.
Pagliuso, L. Levantamento de Seio Maxilar – Masterclass Implantec. Outubro 2025.