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PRP ultrapassado? Novo estudo mostra que PRF injetável regenera cartilagem de forma muito mais eficaz

Escrito por Implantec Brasil | Oct 15, 2025 2:13:34 PM

i-PRF Supera o PRP na Regeneração da Cartilagem: Nova Era na Medicina Regenerativa

A regeneração da cartilagem é um dos grandes desafios da ortopedia moderna. Por ser um tecido avascular e de baixa capacidade de reparo espontâneo, lesões condrais frequentemente evoluem para degeneração articular e osteoartrite, impactando a qualidade de vida de milhões de pessoas.

Durante anos, o plasma rico em plaquetas (PRP) tem sido uma das terapias biológicas mais utilizadas para estimular a reparação tecidual. No entanto, resultados clínicos inconsistentes e dificuldades na padronização do protocolo levaram pesquisadores a buscar alternativas mais eficazes.

É nesse contexto que surge o fibrina rica em plaquetas injetável (i-PRF) — uma nova geração de concentrado plaquetário desenvolvida a partir do conceito de centrifugação em baixa rotação, que vem demonstrando resultados superiores em regeneração tecidual, inclusive na reparação da cartilagem.

🧬 O que é o i-PRF e por que ele representa uma evolução?

O i-PRF (Injectable Platelet-Rich Fibrin) é uma versão aprimorada dos concentrados plaquetários.
Diferentemente do PRP, o i-PRF dispensa o uso de anticoagulantes e ativadores externos, sendo produzido por meio de centrifugação mais lenta e em menor tempo.

Essa variação técnica permite a preservação de:

  • Leucócitos, importantes na modulação inflamatória e regeneração;

  • Células-tronco circulantes e proteínas de matriz;

  • Uma rede de fibrina natural, que atua como estrutura biológica tridimensional para fixação celular;

  • Fatores de crescimento (TGF-β, PDGF, VEGF, IGF-1, entre outros) com liberação lenta e prolongada por até 10 dias, enquanto o PRP libera grande parte em poucas horas.

👉 Na prática, o i-PRF cria um microambiente regenerativo mais estável, sustentado e fisiológico, favorecendo a neoformação tecidual e angiogênese.

📊 Evidências Científicas: o estudo que comparou i-PRF e PRP

O estudo conduzido por Miron et al. (2017) teve como objetivo comparar a eficácia do i-PRF e do PRP na regeneração da cartilagem em um modelo animal experimental (coelhos).

Metodologia

  • Modelo experimental: defeitos condrais foram criados na cartilagem articular dos coelhos.

  • Grupos de tratamento:

    1. Grupo i-PRF;

    2. Grupo PRP;

    3. Grupo controle (solução salina).

  • Avaliação: histológica e imunohistoquímica em 4 e 8 semanas após o tratamento.

Resultados

Os resultados mostraram clara superioridade do i-PRF em relação ao PRP:

Indicador i-PRF PRP Controle
Qualidade do reparo cartilaginoso Cartilagem hialina bem organizada Tecido fibrocartilaginoso Defeito irregular persistente
Colágeno tipo II (marcador de cartilagem verdadeira) Fortemente expresso Parcial Mínimo
Deposição de proteoglicanos Alta Moderada Baixa
Integração com o tecido adjacente Completa e homogênea Parcial Incompleta
Significância estatística p < 0,05

O grupo tratado com i-PRF apresentou melhor estrutura histológica, maior densidade celular condrogênica e formação de matriz cartilaginosa rica em colágeno tipo II — um marcador de regeneração verdadeira de cartilagem hialina, e não apenas de tecido fibroso.

⚙️ Por que o i-PRF funciona melhor?

O sucesso do i-PRF decorre de sua composição celular e arquitetura fibrinosa.

  • A baixa rotação preserva componentes bioativos e evita a degradação de proteínas estruturais.

  • A fibrina tridimensional atua como um “andaime” biológico, retendo e liberando gradualmente fatores de crescimento.

  • A presença de leucócitos contribui para um processo inflamatório controlado, essencial à regeneração.

Essa combinação cria um ambiente ideal para recrutamento de condrócitos, diferenciação celular e reparo estável da matriz cartilaginosa.

💡 Impacto na Prática Clínica

Para profissionais:

  • O i-PRF é fácil de preparar, biocompatível e custo-efetivo.

  • Pode ser aplicado em consultório, sem necessidade de anticoagulantes ou reagentes externos.

  • Oferece um perfil de liberação prolongado de fatores de crescimento, ampliando o potencial de regeneração em diversas áreas — ortopedia, implantodontia, periodontia, e até medicina esportiva.

Para pacientes:

  • Maior redução da dor e inflamação pós-procedimento;

  • Recuperação funcional mais rápida;

  • Menor necessidade de cirurgias invasivas;

  • Possível prevenção da progressão da osteoartrite em casos precoces.

⚠️ Limitações e Considerações Científicas

Embora os resultados sejam altamente promissores, é importante reconhecer as limitações:

  • O estudo foi realizado em modelo animal (coelhos); extrapolações para humanos ainda requerem cautela.

  • Faltam ensaios clínicos randomizados de grande escala para determinar o real impacto clínico.

  • Parâmetros como tempo e velocidade de centrifugação podem variar entre equipamentos, afetando a reprodutibilidade.

Mesmo assim, os achados fornecem base científica robusta para futuros estudos clínicos e aplicações translacionais.

🔮 Futuro e Perspectivas

O avanço do conceito de Low-Speed Centrifugation Concept (LSCC) — base do i-PRF — vem transformando o campo da biotecnologia aplicada à regeneração tecidual.
Pesquisas em andamento exploram o uso do i-PRF em:

  • Lesões de cartilagem articular humana;

  • Cicatrização óssea em implantodontia e enxertos;

  • Regeneração de tecidos moles (gengiva, pele e tendões);

  • Terapias combinadas, como i-PRF associado a biomateriais ou células-tronco mesenquimais.

Tudo indica que o i-PRF poderá se consolidar como nova referência biológica em medicina regenerativa nos próximos anos.

Conclusões Práticas

  • O i-PRF demonstrou regeneração cartilaginosa superior ao PRP em modelo experimental.

  • A técnica oferece liberação prolongada de fatores de crescimento, melhor integração tecidual e maior formação de colágeno tipo II.

  • É um método simples, seguro, econômico e com enorme potencial clínico.

  • Próximo passo: validação em ensaios clínicos humanos para definição de protocolos padronizados.

📚 Referência Científica:
Miron RJ, Fujioka-Kobayashi M, Bishara M, Zhang Y, Hernandez M, Choukroun J.
Injectable platelet rich fibrin (i-PRF) using the low speed centrifugation concept improves cartilage regeneration when compared to platelet rich plasma (PRP).
Journal of Periodontology, 2017; 88(3): 218–228.
doi: 10.1902/jop.2016.160443