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O planejamento digital que acabou com 10 anos de frustração clínica

Escrito por Implantec Brasil | Nov 19, 2025 2:28:09 PM

A Odontologia Digital Como Pilar da Implantodontia e Periodontia Moderna

A Odontologia vive uma das maiores transformações de sua história. A incorporação do planejamento virtual, da cirurgia guiada, das impressoras 3D, dos softwares avançados e dos protocolos digitais aplicados aos tecidos duros e moles tornou-se não apenas uma ferramenta, mas uma verdadeira filosofia clínica. Na Aula 10 da Trilha do Conhecimento, registrada no eBook de 2025, os especialistas Dr. Lucas Capeletti (implantodontia digital) e Dr. Lucas Queiroz (periodontia digital) apresentaram uma síntese extraordinária dessa nova era e é justamente essa síntese que este blog traduz em uma narrativa completa e integrada.

O Planejamento Digital Como Ponto de Partida

No centro de toda a abordagem digital está o planejamento. Inspirado na filosofia de Simon Sinek (“Comece pelo porquê”), o Dr. Capeletti reforça que planejar é o que garante tranquilidade, previsibilidade e longevidade. São três pilares inegociáveis na implantodontia moderna. A máxima é simples: quanto mais tempo se dedica ao planejamento, menos tempo será gasto corrigindo erros durante ou após a execução.

Na aula os professores apresentaram casos reais que ilustraram perfeitamente esse ponto. Um dos exemplos mais marcantes é o de um paciente jovem que recebeu um implante de incisivo lateral totalmente vestibularizado, exigindo sua remoção e refazimento. Em outro caso, um implante imediato foi colocado excessivamente coronal, o que o especialista chamou de “morte programada”.

Esses erros não ocorreram por falta de técnica, mas por falhas de planejamento e deixam evidente por que o ambiente virtual é hoje indispensável. O planejamento digital reduz variações, antecipa problemas, corrige angulações impossíveis de prever clinicamente e estabelece limites biológicos e mecânicos antes mesmo de a broca tocar o osso.

Cirurgia Guiada: Ferramenta, Não Atalho

Uma das maiores confusões entre os clínicos é acreditar que cirurgia guiada é sinônimo de flapless ou que é uma técnica “apenas para iniciantes”. O eBook deixa claro: cirurgia guiada não simplifica o processo, ela qualifica.

A guiada é uma ferramenta tecnológica construída a partir da fusão do DICOM da tomografia com o STL do escaneamento intraoral, possibilitando um design de guia altamente preciso, que será impresso em tecnologias como SLA ou DLP. Mas a precisão depende do planejamento e, delegar esse planejamento a terceiros sem formação cirúrgica não apenas contraria a filosofia da guiada, como abre espaço para erros com consequências graves.

Mais do que facilitar a execução, a guiada reduz o risco de variações tridimensionais que podem comprometer a longevidade do implante. E essa não é uma opinião: dados apresentados por Capeletti mostram que implantes mal posicionados têm um risco 48 vezes maior de desenvolver peri-implantite quando comparados a fatores como tabagismo ou histórico periodontal.

Em outras palavras, se o posicionamento é o principal determinante de sucesso ou fracasso, a ferramenta mais segura para garantir esse posicionamento é a cirurgia guiada.

A Biologia Como Limite: O Que Tecidos Duros e Moles Exigem

Não existe fluxo digital que compense parâmetros biológicos negligenciados. Números que todo implantodontista deveria saber:

  • É necessário ter pelo menos 1,8 a 2,0 mm de espessura de tábua vestibular.

  • Pacientes com apenas 1,2 mm podem evoluir, em três meses, para fenestrações de cerca de 3 mm.

  • O tecido mole também tem exigências rígidas:

    • Mínimo de 2 mm de espessura, ideal acima de 3 mm.

    • 2 mm de mucosa queratinizada ao redor do implante.

A ausência desses requisitos se manifesta de maneira silenciosa, porém destrutiva: remodelação acelerada da crista, sensibilidade, piora dos indicadores inflamatórios e, em casos severos, perda de até metade da área óssea integrável.

Assim, o planejamento digital não serve apenas para escolher o local do implante: ele também revela se é necessário intervir nos tecidos antes da cirurgia. A tecnologia digital, portanto, se integra tanto à implantodontia quanto à periodontia.

O Flapless Bem Indicado — E a Regra Não Escrita da Guiada

O eBook deixa claro que a minoria dos casos está realmente indicada para cirurgia flapless. Para que essa técnica seja aplicada com segurança, todos os critérios precisam ser atendidos simultaneamente:

  • Espessura de tecido mole acima de 3 mm

  • Presença de queratinizada maior que 2 mm

  • Tábua vestibular mínima após instalação

  • Ausência de necessidade de osteoplastia

  • Estética favorável

Por isso, a frase dos autores se tornou um mantra moderno da implantodontia:

“Nem toda cirurgia guiada será flapless, mas toda cirurgia flapless deveria ser guiada.”

A tecnologia elimina a chance de erro quando não existe margem para erro.

Manejo dos Tecidos Moles: O Que a Evidência Chama de Padrão Ouro

Os autores revisitam a literatura clássica para explicar de maneira clara:

  • Para ganho de mucosa queratinizada → enxerto gengival livre

  • Para ganho de espessura → enxerto conjuntivo

O timing é igualmente importante.

O enxerto gengival livre não deve ser realizado no dia da instalação do implante. Ele precisa ser feito 60 a 90 dias antes, pois os retalhos de cada procedimento são incompatíveis.

O conjuntivo, por outro lado, tem sua melhor indicação no mesmo dia da instalação do implante, possibilitando uma única etapa cirúrgica.

Esse tipo de integração entre perio e implante, apresentada pelos especialistas, mostra o quanto a odontologia contemporânea exige visão multidisciplinar.

Casos Avançados: A Prática Comprovando a Teoria

Os casos clínicos apresentados demonstram com clareza a capacidade das tecnologias digitais de transformar cirurgias complexas em procedimentos mais previsíveis.

Foi demonstrado, por exemplo:

  • Recobrimento radicular associado a implante imediato, com uso simultâneo da guia para permitir uma execução flapless e, ao mesmo tempo, viabilizar um retalho avançado de Zucchelli.

  • Correção de extremo livre com guia mucosuportada, usando pinos de fixação para garantir estabilidade.

  • Implante imediato com carga realizada a partir de extração flapless guiada, permitindo controle do envelope ósseo.

Esses exemplos reforçam que a tecnologia não elimina a necessidade de habilidade, mas expande as possibilidades do cirurgião experiente.

Periodontia Digital: Uma Fronteira Brasileira

A parte conduzida pelo Dr. Lucas Queiroz é um marco na periodontia digital. Segundo o eBook, 50% de todas as falhas em procedimentos implantodonticos e periodontais têm origem no diagnóstico inadequado.

A integração entre tomografia, escaneamento e softwares 3D permite:

  • Determinar com precisão a relação entre margem gengival, JCE e crista óssea

  • Planejar periodontia de forma tridimensional

  • Criar guias específicas para intervenções complexas

  • Acompanhar longitudinalmente a cicatrização

Mais do que apenas adotar tecnologia, é a periodontia se reinventando — e o Brasil está na liderança dessa reinvenção.

CAF Guide e MCAF Guide: O Brasil Criando Tecnologia Mundial

O auge da inovação apresentada no eBook é o desenvolvimento do CAF Guide, o primeiro guia cirúrgico do mundo para recobrimento radicular, criado em 2023 e publicado internacionalmente.

Ele resolve falhas críticas do recobrimento tradicional, como:

  • Erros no desenho do retalho

  • Dificuldade em definir a área doadora

  • Risco aumentado na região palatina

  • Incisões imprecisas

  • Falta de padronização

O guia determina automaticamente:

  • Altura ideal do retalho

  • Dimensão exata do enxerto

  • Distâncias seguras da artéria palatina

  • Limites precisos de incisão

Depois dele, foi criado o MCAF Guide, uma versão adaptada para recessões múltiplas. Publicado em 2025, ele demonstrou recobrimento completo em 3 meses e excelente cicatrização em 15 dias.

Ambos são marcos mundiais desenvolvidos por um grupo brasileiro, algo raro e extremamente significativo para a odontologia nacional.

Ferramentas Digitais: Softwares, IA e Impressão 3D

Os professores apresentaram os principais softwares usados tanto na implantodontia quanto na periodontia digital.

Para implantes:

  • Softwares com inteligência artificial que sugerem posições ideais automaticamente.

Para periodontia:

  • Exocad adaptado, devido à ausência de um software periodontal nativo.

  • Manobras específicas para adaptar o fluxo protético às necessidades teciduais.

Além disso, a impressão 3D via SLA ou DLP se tornou padrão ouro para guias pela precisão e custo-benefício. Para casos altamente personalizados, softwares gratuitos como MeshMixer e Blender também são utilizados.

Biomateriais e Fluxo Digital

O biomaterial apresentado, The Graft Collagen, mostra como a integração entre biologia e tecnologia é fundamental. O material possui excelente moldabilidade, partículas pequenas e boa integração, sendo eficiente para:

  • Preenchimento de gaps periimplantares

  • Regeneração óssea guiada

  • Preservação alveolar

Junto ao planejamento e execução guiada, ele compõe um fluxo digital-biológico coeso e eficiente.

Uma Nova Filosofia Clínica

Para os autores, a tecnologia digital não é um luxo: é um compromisso ético com a excelência.
Ela traz:

✅Reprodutibilidade

✅Previsibilidade

✅Menos improviso

✅Segurança anatômica

✅Diagnóstico superior

✅Padrão elevado de qualidade

Como disse o Dr. Capeletti:

"Qual é o preço da minha tranquilidade? Qual é o preço do meu compromisso com a excelência?"

E a resposta da odontologia moderna é clara: a tecnologia é a ferramenta que torna essa excelência possível — e mensurável.

REFERÊNCIAS

  1. Capeletti, L.; Queiroz, L. Trilha do Conhecimento – Aula 10: Tecnologia Digital no Planejamento e Execução dos Procedimentos Cirúrgicos. Purgo Masterclass, 2025.