O alvéolo sofre uma das transformações biológicas mais rápidas e impactantes da odontologia. Em poucos dias após a exodontia, o rebordo inicia um processo inevitável de remodelação que compromete volume ósseo, estética e previsibilidade cirúrgica. A aula ministrada pela Professora Dra. Renata Cimões (UFPE) durante a Trilha do Conhecimento Purgo Masterclass trouxe um dos panoramas mais completos e atualizados sobre esse tema, unindo ciência, clínica e tomada de decisão.
Para quem atua com implantes, especialmente tardios, compreender esse processo não é opcional: é fundamental para evitar complicações, reconstruções extensas e frustrações estéticas.
A preservação alveolar nasce da necessidade de prevenir as perdas dimensionais que ocorrem naturalmente após a remoção de um dente. Mesmo quando a extração é atraumática, o corpo inicia um ciclo de reparo que, paradoxalmente, leva à redução significativa do rebordo.
Perda horizontal e vertical do rebordo
Posicionamento tridimensional limitado para o implante
Diminuição da estabilidade primária
Piora estética, com colapso da tábua vestibular
Aumento de procedimentos reconstrutivos futuros
Risco de resultados imprevisíveis, especialmente na zona estética
Como ressalta a professora:
“Um caso que poderia ser simples torna-se complexo quando a preservação não é realizada.”
O estudo clássico de Araújo & Lindhe é um marco na periodontia e implantodontia. Utilizando um modelo experimental em cães, os autores avaliaram as alterações dimensionais após exodontias padronizadas e análise histológica de alta precisão.
Extrações controladas
Avaliação da remodelação em períodos predeterminados
Cortes histológicos detalhados
Medição quantitativa das perdas ósseas
Perda de cerca de 2,2 mm da crista vestibular em 8 semanas
Paredes lingual e palatina mantiveram-se relativamente estáveis
Maior reabsorção vertical e horizontal na vestibular
Remodelação inevitável, independentemente da técnica
Isso explica por que áreas estéticas são tão desafiadoras: a reabsorção vestibular modifica diretamente o suporte de tecidos moles.
Trauma cirúrgico da extração
Ruptura do ligamento periodontal
Reabsorção inicial do osso fasciculado
Início do processo reparador
Intensa reabsorção das paredes alveolares
Predominância de reabsorção na tábua vestibular
Formação de osso imaturo
Ambiente ainda instável para implantes
Preenchimento total por osso imaturo
Perdas verticais e horizontais definidas
Condições limitadas para implante imediato tardio se não houver preservação
A compreensão dessas fases é determinante para decidir quando intervir e como intervir.
A espessura da tábua vestibular é o maior preditor da reabsorção.
19% dos casos apresentavam tábua < 1 mm
50% desses tinham menos de 0,5 mm
Quando < 0,5 mm → 62% de perda horizontal do rebordo
Quando > 1 mm → perda limitada a 9%
Ou seja: quanto mais fina a tábua, mais devastadora a remodelação.
Dentes adjacentes saudáveis
Periodonto íntegro
Ausência de doença periodontal
Tipo de membrana
Velocidade de reabsorção
Bioatividade
Facilidade de manuseio
Superfície
Protocolo de carga
Componente protético
Diabetes
Histórico de periodontite
Tabagismo
Engajamento no tratamento
“O paciente diabético responde diferente aos enxertos. Ele cicatriza mais devagar.”
A decisão sobre qual abordagem utilizar depende de múltiplos fatores:
Presença de infecção
Paredes alveolares remanescentes
Fenótipo periodontal
Demanda estética
Estabilidade primária possível
Cronograma do paciente
Planejamento reverso protético
A professora reforça:
“Eu começo sempre pela prótese. A partir dela decido o que fazer cirurgicamente.”
| Classe | Características | Conduta |
|---|---|---|
| 1A | Alvéolo íntegro + fenótipo espesso | Implante imediato |
| 1B | Alvéolo íntegro + fenótipo fino | Imediato + enxerto de tecido mole |
| 2 | Deficiência apical | Preservação alveolar |
| 3 | Defeitos moderados | Abordagem tardia |
| 4 | Defeitos severos | Aumento tecidual + implante tardio |
O estudo apresentado mostra claramente:
“A instalação do implante não previne a remodelação”
O implante:
Não evita a perda horizontal
Não impede colapso vestibular
Exige manobras adicionais quando a estética é crítica
Implante imediato ≠ preservação alveolar
Falta de estabilidade primária
Osso apical insuficiente
Medicações contraindicantes
Condições sistêmicas
Adiamento recomendado
Crescimento ósseo incompleto
Caninos ectópicos
Ortodontia
Reorganização do arco
Técnica mais usada
Elevada previsibilidade
Bom quando não se faz enxerto de tecido mole
Controle da hemostasia
Enxertos gengivais livres
Fechamento primário do alvéolo
Hemoderivados
Cicatrização acelerada
Frequentemente necessárias em regiões estéticas
Combinação de biomaterial + enxerto gengival + implante imediato, quando indicado
Trinca + fístula
Defeito vestibular na tomografia
Implante + The Graft Collagen + Decover
Selamento com sutura e Periacryl
Estabilidade no septo
Preenchimento com The Graft Collagen
Cicatrização eficiente em 45 dias
Paciente jovem
Perda dos incisivos por movimentação ortodôntica
Enxerto prévio de tecido mole
Regeneração com The Graft Collagen + membrana + tacha
Não esfarela
Excelente molhabilidade
Cortes precisos
Fácil manipulação
A tecnologia PIEZO oferece:
Movimento linear preciso
Menos aquecimento (≈ 27°C)
Irrigação contínua
Não entope
Melhora o acesso às bolsas periimplantares
Aplicações:
Periimplantite
Profilaxia
Manutenção periódica
“O implante é tão bom quanto o programa de manutenção do paciente.”
Com mais de 70 mil brasileiros aguardando transplante, a professora encerra com um relato pessoal emocionante.
“Meu filho precisou de uma válvula cardíaca. Só sobreviveu porque alguém decidiu doar.”
A mensagem é clara:
Converse com sua família. Declare sua intenção.
A remodelação é inevitável — mas controlável.
A preservação alveolar é mais eficaz que reconstruir depois.
A espessura da parede vestibular é o fator mais crítico.
Técnicas combinadas são a realidade dos melhores resultados.
A decisão clínica deve ser individualizada.
Manutenção periódica determina longevidade.
A prática baseada em evidências continua sendo o caminho seguro.