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O erro invisível que destrói o rebordo sem você perceber

Escrito por Implantec Brasil | Dec 13, 2025 2:30:00 PM

🦷 Preservação Alveolar para Implante Tardio: A Ciência, as Técnicas e as Decisões que Transformam Resultados na Implantodontia Moderna

O que acontece com o alvéolo após a extração, e por que isso importa mais do que muitos imaginam

O alvéolo sofre uma das transformações biológicas mais rápidas e impactantes da odontologia. Em poucos dias após a exodontia, o rebordo inicia um processo inevitável de remodelação que compromete volume ósseo, estética e previsibilidade cirúrgica. A aula ministrada pela Professora Dra. Renata Cimões (UFPE) durante a Trilha do Conhecimento Purgo Masterclass trouxe um dos panoramas mais completos e atualizados sobre esse tema, unindo ciência, clínica e tomada de decisão.

Para quem atua com implantes, especialmente tardios, compreender esse processo não é opcional: é fundamental para evitar complicações, reconstruções extensas e frustrações estéticas.

O Problema: Reabsorção Alveolar — Uma Força Biológica Poderosa

A preservação alveolar nasce da necessidade de prevenir as perdas dimensionais que ocorrem naturalmente após a remoção de um dente. Mesmo quando a extração é atraumática, o corpo inicia um ciclo de reparo que, paradoxalmente, leva à redução significativa do rebordo.

Consequências da não preservação:

  • Perda horizontal e vertical do rebordo

  • Posicionamento tridimensional limitado para o implante

  • Diminuição da estabilidade primária

  • Piora estética, com colapso da tábua vestibular

  • Aumento de procedimentos reconstrutivos futuros

  • Risco de resultados imprevisíveis, especialmente na zona estética

Como ressalta a professora:

“Um caso que poderia ser simples torna-se complexo quando a preservação não é realizada.”

O Estudo Científico que Mudou o Conceito: Araújo & Lindhe

O estudo clássico de Araújo & Lindhe é um marco na periodontia e implantodontia. Utilizando um modelo experimental em cães, os autores avaliaram as alterações dimensionais após exodontias padronizadas e análise histológica de alta precisão.

Pontos-chave da Metodologia

  • Extrações controladas

  • Avaliação da remodelação em períodos predeterminados

  • Cortes histológicos detalhados

  • Medição quantitativa das perdas ósseas

Principais Descobertas

  • Perda de cerca de 2,2 mm da crista vestibular em 8 semanas

  • Paredes lingual e palatina mantiveram-se relativamente estáveis

  • Maior reabsorção vertical e horizontal na vestibular

  • Remodelação inevitável, independentemente da técnica

Isso explica por que áreas estéticas são tão desafiadoras: a reabsorção vestibular modifica diretamente o suporte de tecidos moles.

Como o Alvéolo Cicatriza: As 3 Fases Essenciais que Todo Cirurgião Precisa Respeitar

1. Fase Inflamatória – o gatilho biológico (imediata)

  • Trauma cirúrgico da extração

  • Ruptura do ligamento periodontal

  • Reabsorção inicial do osso fasciculado

  • Início do processo reparador

2. Fase Proliferativa – o pico de atividade osteoclástica (≈ 2 semanas)

  • Intensa reabsorção das paredes alveolares

  • Predominância de reabsorção na tábua vestibular

  • Formação de osso imaturo

  • Ambiente ainda instável para implantes

3. Fase de Remodelamento – o novo equilíbrio (≈ 8 semanas)

  • Preenchimento total por osso imaturo

  • Perdas verticais e horizontais definidas

  • Condições limitadas para implante imediato tardio se não houver preservação

A compreensão dessas fases é determinante para decidir quando intervir e como intervir.

O Fator Decisivo: Espessura da Tábua Vestibular

A espessura da tábua vestibular é o maior preditor da reabsorção.

Descobertas essenciais:

  • 19% dos casos apresentavam tábua < 1 mm

  • 50% desses tinham menos de 0,5 mm

  • Quando < 0,5 mm → 62% de perda horizontal do rebordo

  • Quando > 1 mm → perda limitada a 9%

Ou seja: quanto mais fina a tábua, mais devastadora a remodelação.

Fatores protetores:

  • Dentes adjacentes saudáveis

  • Periodonto íntegro

  • Ausência de doença periodontal

O Que Interfere na Regeneração Óssea? Três Grandes Grupos

1. Fatores do Biomaterial

  • Tipo de membrana

  • Velocidade de reabsorção

  • Bioatividade

  • Facilidade de manuseio

2. Fatores do Implante

  • Superfície

  • Protocolo de carga

  • Componente protético

3. Fatores do Paciente

  • Diabetes

  • Histórico de periodontite

  • Tabagismo

  • Engajamento no tratamento

“O paciente diabético responde diferente aos enxertos. Ele cicatriza mais devagar.”

A Tomada de Decisão Clínica: Muito Além da Técnica

A decisão sobre qual abordagem utilizar depende de múltiplos fatores:

Considerações Essenciais

  • Presença de infecção

  • Paredes alveolares remanescentes

  • Fenótipo periodontal

  • Demanda estética

  • Estabilidade primária possível

  • Cronograma do paciente

  • Planejamento reverso protético

A professora reforça:

“Eu começo sempre pela prótese. A partir dela decido o que fazer cirurgicamente.”

Classificação de Cardarópole (2025): A Nova Bússola do Cirurgião

Classe Características Conduta
1A Alvéolo íntegro + fenótipo espesso Implante imediato
1B Alvéolo íntegro + fenótipo fino Imediato + enxerto de tecido mole
2 Deficiência apical Preservação alveolar
3 Defeitos moderados Abordagem tardia
4 Defeitos severos Aumento tecidual + implante tardio

Implante Imediato: O Mito da Prevenção da Reabsorção

O estudo apresentado mostra claramente:

“A instalação do implante não previne a remodelação”

O implante:

  • Não evita a perda horizontal

  • Não impede colapso vestibular

  • Exige manobras adicionais quando a estética é crítica

Implante imediato ≠ preservação alveolar

Indicações Claras para Preservação Alveolar

1. Quando o implante imediato não é possível

  • Falta de estabilidade primária

  • Osso apical insuficiente

2. Pacientes que não farão implantes por enquanto

  • Medicações contraindicantes

  • Condições sistêmicas

  • Adiamento recomendado

3. Pacientes jovens

  • Crescimento ósseo incompleto

  • Caninos ectópicos

4. Necessidade de outros tratamentos prévios

  • Ortodontia

  • Reorganização do arco

Técnicas de Preservação: O Arsenal do Cirurgião Moderno

1. Substitutos ósseos + membranas

  • Técnica mais usada

  • Elevada previsibilidade

2. Selamento com plugs ou esponjas

  • Bom quando não se faz enxerto de tecido mole

  • Controle da hemostasia

3. Selamento com tecido mole

  • Enxertos gengivais livres

  • Fechamento primário do alvéolo

4. Fatores de Crescimento

  • Hemoderivados

  • Cicatrização acelerada

5. Abordagens combinadas

  • Frequentemente necessárias em regiões estéticas

  • Combinação de biomaterial + enxerto gengival + implante imediato, quando indicado

Casos Clínicos: Quando a Teoria Encontra a Cirurgia

Caso 1 – Pré-molar superior

  • Trinca + fístula

  • Defeito vestibular na tomografia

  • Implante + The Graft Collagen + Decover

  • Selamento com sutura e Periacryl

Caso 2 – Molar superior com carga imediata

  • Estabilidade no septo

  • Preenchimento com The Graft Collagen

  • Cicatrização eficiente em 45 dias

Caso 3 – Área anterior complexa

  • Paciente jovem

  • Perda dos incisivos por movimentação ortodôntica

  • Enxerto prévio de tecido mole

  • Regeneração com The Graft Collagen + membrana + tacha

Destaques do The Graft Collagen

  • Não esfarela

  • Excelente molhabilidade

  • Cortes precisos

  • Fácil manipulação

A Manutenção com Combi Touch: Onde a Longividade se Consolida

A tecnologia PIEZO oferece:

  • Movimento linear preciso

  • Menos aquecimento (≈ 27°C)

  • Irrigação contínua

  • Não entope

  • Melhora o acesso às bolsas periimplantares

Aplicações:

  • Periimplantite

  • Profilaxia

  • Manutenção periódica

“O implante é tão bom quanto o programa de manutenção do paciente.”

Causa Social: Doação de Tecidos e Órgãos — Um Chamado da Professora

Com mais de 70 mil brasileiros aguardando transplante, a professora encerra com um relato pessoal emocionante.

“Meu filho precisou de uma válvula cardíaca. Só sobreviveu porque alguém decidiu doar.”

A mensagem é clara:
Converse com sua família. Declare sua intenção.

Conclusões Gerais: O que este conteúdo transforma na prática clínica

  1. A remodelação é inevitável — mas controlável.

  2. A preservação alveolar é mais eficaz que reconstruir depois.

  3. A espessura da parede vestibular é o fator mais crítico.

  4. Técnicas combinadas são a realidade dos melhores resultados.

  5. A decisão clínica deve ser individualizada.

  6. Manutenção periódica determina longevidade.

  7. A prática baseada em evidências continua sendo o caminho seguro.

    Referências (extraídas do material fornecido)

    1. Renata Cimões. Trilha do Conhecimento Purgo – Masterclass: Preservação de rebordo para implante tardio.Setembro 2025. PDF fornecido pelo usuário.