Por muito tempo, a deficiência óssea foi uma barreira para o sucesso dos implantes dentários. Pacientes com espessura insuficiente de rebordo alveolar eram submetidos a cirurgias invasivas, enxertos em bloco e longos períodos de espera até a reabilitação definitiva. Mas a odontologia moderna tem mostrado que há maneiras mais previsíveis e menos traumáticas de alcançar os mesmos resultados e é nesse ponto que a técnica Split Crest vem transformando o cenário da implantodontia.
A reabsorção óssea é um fenômeno inevitável após perdas dentárias. Quando o volume ósseo horizontal não é suficiente, o implante perde estabilidade, comprometendo estética e função. Tradicionalmente, o recurso mais comum tem sido o enxerto ósseo autógeno, que embora previsível, é também uma técnica de alta morbidade e duas cirurgias: uma para coletar o osso e outra para enxertar.
Segundo o Professor Fabiano Capato, especialista em Implantodontia e Cirurgia Bucomaxilofacial, esse paradigma pode, e deve ser repensado. Em sua Trilha do Conhecimento Purgo Masterclass, ele mostra que é possível expandir o osso existente de forma segura, evitando cirurgias adicionais e reduzindo o tempo total de tratamento.
A masterclass, realizada em outubro de 2025, reuniu cirurgiões de todo o Brasil e apresentou de forma detalhada os protocolos clínicos da técnica Split Crest, com embasamento em literatura científica e resultados de longo prazo. A proposta de Capato é clara: “Trabalhar de formas diferentes, cada um dentro da sua habilidade, mas tendo bons resultados.”
A Split Crest consiste basicamente em dividir a crista óssea no sentido vestíbulo-lingual, mobilizando a cortical vestibular como uma “fratura em galho verde”, preservando o periósteo e mantendo a irrigação. O espaço criado entre as corticais é então preenchido com biomaterial particulado, permitindo o ganho de espessura necessário para a instalação imediata dos implantes.
O procedimento é indicado especialmente para ossos tipo 3 e tipo 4, com espessura mínima de 3 mm e defeitos horizontais moderados. A técnica é contraindicada em casos de osso muito denso (tipo 1 ou 2) ou quando há necessidade de ganho vertical.
O planejamento tomográfico é essencial para medir densidade e altura, e o uso do piezoelétrico é recomendado como primeira escolha para as osteotomias, graças à precisão e ao corte seletivo que preserva estruturas nobres e reduz o trauma cirúrgico.
O passo a passo apresentado por Capato inclui:
Incisão na crista e exposição controlada do campo;
Cortes verticais e horizontal conectando as osteotomias;
Expansão gradual com instrumentos adequados;
Instalação do implante com estabilidade primária (35–45 Ncm);
Preenchimento do “gap” com biomaterial;
Sutura sem tensão e fechamento cuidadoso dos tecidos.
Estudos comparativos demonstram que o aumento horizontal obtido com a técnica Split Crest é previsível, e as taxas de sucesso dos implantes são equivalentes às obtidas com enxertos em bloco, porém com menor morbidade e menor tempo de tratamento.
Entre as vantagens mais destacadas:
Redução de até 6 meses no tempo total de reabilitação;
Eliminação da necessidade de área doadora;
Menor custo clínico, já que o tempo de cadeira é significativamente reduzido;
Preservação das estruturas anatômicas e menor risco de complicações pós-operatórias.
A previsibilidade e a recuperação acelerada trazem impactos não apenas clínicos, mas também emocionais. Para o paciente, menos dor e menos tempo de espera significam retorno mais rápido à autoestima e à função mastigatória. Para o cirurgião, a satisfação vem de oferecer um tratamento seguro e estético sem recorrer a procedimentos agressivos.
Capato ressalta que, apesar da elegância técnica, o sucesso depende da precisão na execução. Pequenos desvios na força de expansão ou falhas no manejo tecidual podem resultar em fraturas completas ou recessões gengivais. Por isso, a formação contínua e a curva de aprendizado são essenciais.
| Característica | Enxerto em Bloco | Split Crest |
|---|---|---|
| Cirurgias necessárias | 2 (doadora + receptora) | 1 única |
| Tempo de tratamento | 6–9 meses | 2–3 meses |
| Invasividade | Alta | Baixa |
| Estabilidade primária | Após 2ª cirurgia | Imediata |
| Morbidade | Alta | Mínima |
| Custo total | Elevado | Reduzido |
| Requer área doadora | Sim | Não |
| Indicação | Defeitos extensos | Defeitos horizontais moderados |
Com o amadurecimento da técnica, Capato demonstrou como pequenas mudanças nos pontos de sutura e o uso de retalhos sem tensão reduziram significativamente a recessão gengival. Nos casos em que ela persiste, pode-se recorrer à enxertia de tecido mole em um segundo tempo cirúrgico.
Outra preocupação é a reabsorção da tábua óssea vestibular, minimizada com o uso de biomateriais de alta estabilidade volumétrica e protocolos de condensação controlada. A vascularização do periósteo e a cobertura sem tensão são determinantes para o sucesso.
Um dos pontos mais didáticos do material é a discussão sobre o biomaterial ideal. A preferência é clara: materiais particulados com boa osteocondução e fácil manuseio. Nos casos clínicos apresentados, Capato utilizou o enxerto Purgo, que se destacou pela consistência e praticidade.
“O Purgo apresenta partículas de tamanho adequado, boa integração e previsibilidade clínica, estando sempre disponível no consultório”, destaca o professor.
Aqui cabe uma reflexão importante: mais do que um produto, trata-se de uma ferramenta que facilita o raciocínio clínico. A previsibilidade do biomaterial permite que o cirurgião se concentre na execução da técnica o que, em última análise, é o verdadeiro diferencial de um resultado de excelência.
Dominar a Split Crest não se resume a seguir um protocolo. Envolve compreensão biomecânica, domínio anatômico e treinamento progressivo. Capato propõe quatro etapas de aprendizado: teoria, observação, prática supervisionada e prática independente. Essa jornada reflete o espírito da odontologia moderna: precisão baseada em evidências e aprendizado contínuo.
A Split Crest, quando bem indicada, transforma o conceito de reconstrução óssea horizontal. Ela reduz o tempo de tratamento, elimina etapas cirúrgicas e proporciona resultados previsíveis com menor invasividade. A decisão entre essa técnica, enxertos em bloco ou ROG deve considerar o caso clínico, a experiência do profissional e a relação custo-benefício.
Como afirma o professor:
“O importante é proporcionar tratamentos duradouros, respeitando os princípios biológicos e garantindo bons resultados para o paciente.”
Baseado no eBook:
Capato, F. Técnicas de Expansão Óssea (Split Crest) – Trilha do Conhecimento Purgo Masterclass. Outubro de 2025.
Organização: Implantec – Trilha do Conhecimento Purgo.